terça-feira, 4 de novembro de 2008

"Eu sou uma prostituta, não faço por amor"

Depois dos últimos acontecimentos na Torke, não pude deixar de me deliciar ao ler este delicioso post do Gustavo Fortes, Guerrilheiro da agência brasileira Espalhe. Tinha que postar.


"Todo mundo diz que nosso mercado está prostituído. Eu penso diferente, acho que nosso mercado é uma adolescente procurando o príncipe encantado.

Aqui na agência cobramos para trabalhar. É óbvio? Nem tanto. Ainda existe cliente que exclama: o quê!? eu tenho que pagar para vocês desenvolverem um plano de guerrilha para o meu briefing?

Sim, nós cobramos para trabalhar. Da mesma forma que o costureiro que fez a cortina da sua casa cobrou um sinal, sem você saber se ela ficaria bonita ou não. Da mesma forma que seu advogado cobrou ganhando ou perdendo a causa. Da mesma forma que você cobra do seu empregador (e você cobra até sem trabalhar nos seus merecidos 30 dias de férias). Da mesma forma que uma prostituta cobra antes de tirar a roupa.

Todos estes profissionais são prestadores de serviço e cobram para trabalhar. E por venderem algo intangível, a sua expertise, existe o risco de dar certo ou errado. O risco de você gostar ou não do resultado. O risco de ser bom pra você ou de você brochar. Para diminuir o risco, o contratante avalia as credenciais do fornecedor. Avalia se os serviços semelhantes que o fornecedor já fez estão adequados às suas expectativas. Não tem jeito, estamos falando de serviço e não de produto de prateleira com etiqueta de preço.

Com a Espalhe, eu sou uma prostituta com 5 anos de esquina tentando encantar e surpreender os clientes. E no meu ponto todo dia param uns pós-adolescentes, com pinta de gerente de produto jr ou atendimento de agência de propaganda, que abrem o vidro e jogam uma conversinha de que estão apaixonados, que querem me levar para casa e me tratar como uma rainha. Eu nem escuto o fim do papinho: dispenso dizendo que não beijo na boca e não faço por amor. Sou profissional e cobro pelo que faço.

Mas outro dia chegou um cliente antigo. Um tipo bonitão, forte, saudável e muito bem sucedido. Jogou a sua cantada, disse que estava apaixonado. E eu cai. Fui para a cama uma concorrência sem cobrar. Fiz por amor.

E você acha que no dia seguinte o meu príncipe ligou para dar um feedback? Claro que não. Vestindo a carapuça de adolescente ingênua e apaixonada, eu pensei que ele tinha perdido o meu telefone ou estava muito ocupado. Mandei um email perguntando se estava tudo bem e se ele ainda me amava. E ele respondeu frio, superficial e distante:

“Analisamos hoje as propostas apresentadas e optamos pelo projeto de outro fornecedor que estava mais adequado as nossas necessidades e objetivos. Agradeço pela apresentação e participação na concorrência. Abs,”

Nenhuma consideração com meu amor e dedicação a ele. Me sentindo suja e usada, eu volto pra minha esquina com a certeza que o amor não existe e que o bonitão vai continuar com o papai-mamãe de sempre _ seja no formato do estande enorme, bonito e vazio na feira, da propaganda super produzida que ninguém vai falar a respeito, do site lindo que tem que comprar post em blogs para ter alguma visita.

Se adolescentes apaixonadas não te satisfazem mais e você busca profissionais para realizar todas as suas fantasias, me ligue.

Bjs, GFortes - mas pode me chamar de Pamela - cabelos negros, 1,74 e 80 kg de pura travessura."

4 comentários:

borrachaverde disse...

Pois é..

Às vezes temos que aprender a ser umas putas para a vida não nos comer (antes comermos nós a vida).

Mas depois perdemos toda a nossa dignidade, e acabamos por gastar todo o "dinheiro" que fizemos com os "servicinhos" a tentar recuperar o que perdemos. (lá está)

Fodido.





Em termos profissionais, falo por mim, prefiro fazer por amor.


[....denti?]
Um beijo.

rosas disse...

Eu também prefiro fazer por amor, mas lá está: trabalho é trabalho e tem q ser pago.
Ser uma puta neste caso é, simplesmente, receber pelo que se faz, independente do facto de ser feito por amor. na área específica, falamos de putas mesmo, porque vem cliente q dá choradinhos e isto e acoloutro e depois no final foge sem pagar (claro q nao leva o produto todo, mas uma parte ja levou e nao pagou), etc e entao tem que se ser puta mesmo, que combra só para se despir.

eu por mim, prefiro fazer o amor.
(:

um beijo para ti*

borrachaverde disse...

Lógico que preferencialmente todos nós queremos é fazer amor.
Sexo por sexo (ou por dinheiro, neste caso) desgasta.

Mas claro.
Muitas vezes não dá hipótese.
Se vivessemos só das nossas preferências....
(pobres mas felizes?)

Este post está giro.
bjs e boa noite dr rosas*

Jessica e André disse...

Trabalhar por amor?
Pelo amor de deus.

Quanto muito, faze-lo COM amor.

Deixa-me algo apreensiva perceber que há pessoas que de facto se prestam a trabalhar sem garantias financeiras (como eu o fiz, e bem me serviu de emenda; mais do que por amor, por estupidez crónica) em nome de um qualquer valor superior elevado, místico, e que no final se consubstancia invariavelmente em relações laborais duvidosas das quais saímos sempre (nós, os "apaixonados pela causa") invariavelmente prejudicados. e pobrezinhos e angustiados a pensar como vamos pagar a renda.
Perdoem-me o ácido da coisa, mas been there, seen it, e dispenso.

eu cá
eu,
pessoalmente, (que nem sou de intrigas)
prefirõ faze-lo assim, tal qual como este senhor diz:

Com frieza, disciplina, prazos, qualidade e profissionalismo. E tudo isto custa dinheiro. Também dispenso os beijinhos.